Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Janela

Por Viviane Cabrera





Toda noite me deparava com aquela janela. Estava ela toda exposta, escarando seu mundo para mim sem
pudor algum. Via aquele portal maravilhada. Quantas coisas, pessoas, histórias e situações haveria por trás
daquelas duas simples folhas de madeira vagabunda, mofada e cheia de marca do tempo? Perguntava-me  sempre que defronte estivesse a bendita.


Há muito tentava imaginar o que ali tinha. Era mais do que uma janela. Era uma oportuna chance de satisfazer minha curiosidade.


Com luzes acesas ou apagadas. As roupas que se apropriavam da varanda languidamente. Meus olhos que também tomavam posse do cenário, tentando desvendar um mistério alheio à realidade que eu pertencia.


 Nem um rosto sequer consegui ver, somente sombras movimentavam-se de um lado a outro. E por longo tempo observei. Anos passaram naquelas noites em que, esperando um trem para ir embora, fitava fixamente as vistas cansadas na janela entreaberta.Contudo, chegou o momento em que a hora se apresentou e o sol tomou seu posto. Talvez seja agora o momento de esquecer as sombras para viver de  luz. Cansei de me esconder atrás daquela misteriosa e maltrapilha janela.


Bendita, janela...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SEM SAÍDA

Por: Viviane Cabrera








Vou do meu jeito,
um tanto estranho,
meio torto, meio direito
seguindo o caminho a que me proponho.



Um pouco Plath, Lispector e Meirelles,
reúno em mim
zilhões de encantadoras mulheres
em um labirinto sem fim.



Não quero, portanto,
deixar de rir meu riso,
de chorar o sagrado pranto
que lava e leva tudo consigo.



Quero dos trilhos ser caminho.
Com palavras acalentar.
Das misérias ser o extermínio,
para fixar nalgum lugar.



Quero que a acústica desse oco,
sem motivo nem resolução,
propague esse som choco
que sai ao insistir em deixar pulsar o coração.

SONHO É O QUE MOVE O MUNDO

Mesmo com poucos selos que permitem a jovens talentos a oportunidade de lançar livros, Caroline Rosseto concretiza seus objetivos.
Foto e Reportagem Por: Viviane Cabrera

CONQUISTA – Caroline Rossetto mostra o fruto de seus esforços.

Caroline Rossetto, de 26 anos, escolhe desde cedo o caminho das palavras. Talvez influência de sua mãe, professora de língua portuguesa, fez das letras degraus que permitiram com que chegasse ao ponto desejado: a publicação de seu livro.

Por quatro anos ela fica entre incansáveis pensamentos, ideias limadas no papel, até atingir sua meta. Logo tinha seus escritos registrados e ia em busca de uma editora. Mais dois anos se passaram. A garota de sonhos simples e vida difícil leva muitas recusas sob a forma da negativa de três letras. É como um arpão a atravessar seu âmago e desafiá-la. Tudo que ouve é: “Seu livro é muito bom, mas não estamos interessados agora”.
Já em vias de desistir, resolve colocar o livro em um site voltado para editoras. Em julho de 2009 tem nas mãos o fruto do homérico esforço e degusta o sabor de sua vitória: “Na época de lançamento o interesse era tanto que pensei que fosse virar a J.K.Howling brasileira”, conta em meio a sorrisos que logo dão lugar a outras feições em seu rosto juvenil.
Colocado a um preço nada acessível, as vendas não deslancham como o esperado. Chateada e com certa indignação, sente ruir as bases de seu sonho: “Foi a partir daí que eu descobri como é que funcionava o mercado literário realmente. O Brasil quase não lê e os preços são absurdos”, desabafa com tristeza e um tímido esboço de lágrima em seus rutilantes olhos.

BUROCRATIZAÇÃO DA CULTURA

O mercado editorial brasileiro é extremamente restrito se comparado ao do restante do mundo. Enquanto as grandes editoras vendem diretamente às livrarias, as pequenas trabalham com o sistema de consignação. O autor recebe unicamente 10% sobre o valor bruto de sua criação, sendo que a editora fica com 40% e o restante dos lucros é da livraria.
De acordo com pesquisas coletadas pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro, estima-se que em 2009 – mesmo ano em que a autora lança seu livro – publicou-se 401.390 exemplares. Já o faturamento é calculado em 4.167.594.601,40 reais. Vê-se que a “cadeia alimentar capitalista” em nada beneficia a literatura, visando somente ao lucro e não objetivando a propagação cultural no Brasil.
Em contato com a Editora Átomo, selo vinculado à Academia Brasileira de Letras de Campinas, Helena explica uma forma que a ABL encontrou para lançar novos nomes: “Trata-se de reunir vários autores em uma só publicação. O valor depende do número de páginas, se a pessoa quer em preto e branco ou se haverá utilização de imagens e cores”. Nessa taxa, estariam inclusos o coquetel de lançamento do livro e o autor teria direito a 20 exemplares (por ser uma baixa tiragem).
E nessa vereda burocratizada, correm contra o tempo muitas “Carolines”. Todas em busca do maravilhoso Éden que é o reconhecimento de seu trabalho literário.
PEREGRINA DAS PALAVRAS
Parar de escrever. Uma hipótese que não consta no caderno de sua vida. Nele a prioridade é fazer de sua literatura uma ferramenta para construir um futuro farto de letras e pensamentos frenéticos que lhe renderão o tapete vermelho do reconhecimento que tanto anseia. Como Brás Cubas com seu emplastro, cá está uma promissora jovem com seus escritos: “Ter o meu livro, ali, na minha frente, foi resposta para várias coisas. É um ‘cala a boca’ para muita gente. Não sou mãe. Mas talvez, seja a mesma sensação de se ter um filho”.
Confessa cabisbaixa que já pensou em desistir. No entanto, frisa com uma força sobrevinda não se sabe de onde que são em momentos como esses que ideias e estórias aparecem a equilibrar-se no trapézio de seu cérebro.
Como um sonho já se concretizou, ela fica a galgar degraus mais acima do que se encontra: “Por incrível que pareça, eu penso no Tim Burton e o quanto gostaria que conhecesse e dissesse que o meu trabalho é bom. Por que não sonhar desse jeito?”, lança ao universo de seres que a cercam.





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

BREVE ESPERANÇA


Por: Viviane Cabrera












Quem sabe um dia,

eu deixe essa eterna mania

de só procurar

o que sei que nunca vou encontrar.
 
 
 
Devagar, mesmo que a vida seja curta,
 
quero cantar aquela melodia surda,
 
que só eu entendo...
 
que só eu compreendo...
 
 
 
Vou mergulhar nesse desatino.
 
Fazer dessa canção um hino!
 
Sem me esquecer
 
que o melhor da vida,
 
ainda que haja ferida,
 
é justamente viver.
 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O VERDADEIRO LAR

POR: VIVIANE CABRERA





Ela acreditava no ser humano.
E por acreditar,
tropeçava nas pedras do caminho
sem direito à ajuda para se levantar.


Corria entre vales e colinas verdejantes.
Arrastava-se no deserto escaldante.
Buscava apenas algo que nem intuir o quê.
Ia além de seus limites sem nem mesmo saber ou compreender.


Às cegas, sentindo as experiências
que a própria vivência
lhe proporcionava
e ela nem notava.


Até que em uma tempestade,
o mau-tempo virou maldade,
ferindo a andarilha
 e tirando-a da trilha
que nunca deveras ter saído,
pois jurou e havia prometido
concretizar o maior feito de sua vida.


Nada mais era que uma saída.
Ser a mesma em qualquer lugar,
jamais traí-la e sempre a amar.
Afinal, não há morada melhor,
além dos caminhos que sabe de cor,
que fazer de nós mesmos o mais perfeito lar.

POEMA DO CORAÇÃO

POR: VIVIANE CABRERA











Se quer viver de verdade,

tem que levar a vida com intensidade,

sem deixar para trás nenhum sonho ou anseio.

Abra seu coração no meio

e deixe que dele saia e tome conta

da sua existência,

tal qual no mar o que movimenta é a onda

o que traz felicidade é simplesmente dar vazão à essência!
 
 
 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

EQUILÍBRIO NA CORDA BAMBA

POR: VIVIANE CABRERA





Daquilo que sei, a vida deu muitas voltas. Rodopiou tanto que é no ponto de partida em que me vejo. O tempo urge. Não há pesar, tristeza ou arrependimento. Somente invade uma sede intensa por concretizar os intentos do meu coração. De maneira racional, equalizo e calculo os próximos passos, para não mais cair nos embustes e armadilhas dessa miserável existência. Já que não se tem sorte, o negócio é fazer acontecer.

Não me dou ao trabalho de contar até dez. Vou ao três e expulso de vez o que não vale a pena. Não existe meio termo. Está disposto a seguir meu caminho? Ótimo, vamos juntos! Agora, não venha achar que pode me cercear, podar meu jeito. Quando chego no limite, digo até o que não quero. Só expulsando os demônios (saindo de dez em dez que é para não congestionar).

Olho a janela com grades. Através dela, vejo o sol, os pássaros a cantar, a brisa leve a rodopiar no meio das plantas e essas a sorrirem com as nuances de cores tais reluzindo à luz. Por que aqui dentro também não pode haver tal fenômeno simples de felicidade cotidiana?

"És eternamente responsável pelo que cativas". Qual o erro na frase? Na frase, nenhum. Mas o pragmatismo de pensar só em si é o problema. Felicidade é coisa que só se conjuga a dois e com o verbo estar. Dado que tudo é efêmero e perde-se valores facilmente, jamais seremos felizes.  Apenas o estaremos em poucos instantes. Com o tempo se aprende... Esperança deveria ser algo bom. No entanto, só machuca mais o que já está doendo. Como monólogos não são minha praia, necessito de diálogo para uma convivência harmônica. E do vazio, faço a engrenagem para buscar algo que me preencha.
Um quebra-cabeça de sete mil peças. Assim sou eu. Sigo a reinventar-me, a reconstruir-me sempre em busca de dias melhores. Pois, como já ouvi de um sábio: "A vida é isso:caiu? LEVANTA! Caiu de novo? LEVANTA!". E nessa ginástica involuntária vou existindo e espalhando minhas palavras por aí.

Em se tratando de sapiência, as crianças são as mais indicadas a nos ensinar. Pois segundo tal ciência, elas vivem o presente, sem saber o que é passado. Brincam, saltam, pulam, sem se importar que o tempo passa e o futuro irá chegar. Aprendamos, também, a realmente estar no presente e do passado se desfazer. O futuro só chega amanhã e hoje eu quero é brincar de viver.

Quando pequena, meu pai sentava no tapete da sala à minha frente e contava histórias fantásticas de heróis mitológicos, de deuses e deusas gregas que explicavam os mistérios dessa vida, sempre com um fim carregado de valor moral. Minha mãe já partia para os contos de fadas quando me colocava para dormir. Deveria ter absorvido mais sobre mitologia grega do que das estórias melosas de finais felizes. Hoje, seria mais pragmática e aceitaria com mais serenidade os acontecimentos.

O melhor da vida é que, imprevisível, desperta a capacidade de sonhar com as hipóteses do "e se". No silêncio que encontro, ouço o tilintar do sino dos ventos. Os carros todos em movimento. E meu corpo a entregar-se à essa rede molemente, à essa coisa simples que é a gente. Sinto apenas sede. Tenho sede do que não fiz, do que há de vir. Enquanto a rede balança devagar, me pego a pensar, no que foi e no que será. 

Vou usar é lavanda para me perfumar. Preciso do frescor em meu pensamento, da sensação de aconchego que lembra os cheiros da infância e do equilíbrio dessa bagunça toda. Não mais caminhar atada ao saco de pedras nas costas, quero a leveza de ser simples! Somente agir de coração leve. Os olhos fixos em um ponto com o corpo em movimento. Alma em intensa revolução e mente "em obras". O resto? Deixo acontecer.
 Há um caminho em que terei de escalar montanhas e me permitir a essa aventura. Também existe uma placa de atalho. Todavia, o que vale a pena é aquilo que se conquista com sangue e suor. Pois o que vem fácil, vai-se embora da mesma maneira. A vida é feita de tentativas para que a concórdia reine. Algumas vezes ficamos felizes ao ver que valeu a iniciativa. Já em outras...

Viver é ter resiliência para se adaptar às situações se apresentam. Pode-se tropeçar, cair e se quebrar. Contudo, o que vale é o como, quando, e as razões para se levantar. Viver não tem preço. É uma experiência alucinante e docemente suicida. 
 
Amo brisas gélidas de inverno. É no frio que me ponho a expandir o calor do meu ser. Quando estou disposta e tão leve, que a própria brisa me leva consigo.

Mas já é setembro. Que a primavera traga não só flores, mas também bons frutos, cores, curas, sensações, sabores e vida. Assim como a flor de lótus, estarei sobre as águas de tormenta mas não me deixarei molhar. Superação é a palavra de ordem para manter o equilíbrio.




terça-feira, 6 de setembro de 2011

AQUILO QUE SOU EU

POR: VIVIANE CABRERA







Até onde me conheço,
intensidade é minha marca registrada.
Mesmo entregando o melhor de mim, vejo
que essa minha característica me deixa esgotada.
Frustrada, por não poder ir além.
Por estar infeliz com a situação que se tem.

Em um exercício de respiração do ser,
Inspiro a vida e suas surpresas.
Às boas mergulho de cabeça sem medo qualquer.
Já as ruins, encerro num baú destinado ao mar e suas profundezas.
Não quero a promessa do talvez a me torturar.
Quero uma prova para poder confiar.

Quanta revolta há cá dentro.
Por dar crédito ao desconhecido.
Aventurei-me, mas lamento.
Pois julguei ser sagrado,
um sentimento por mim bem cultivado
que ao outro somente foi um período divertido. 
Julguei haver solidez
nos castelos de areia com que me presenteava.
Estou presa a "um dia", a um "talvez",
contrários às certezas que me apresentava.


Amar não é soltar um "eu te amo" ao vento.
É demonstrar em atitudes o sentimento
que deveras diz ter-se.
Avessa à plasticidade,
mostro-me na realidade,
tal qual sou e digo ao outro para não iludir-se.
Perfeição não há no ser humano,
tão falho e cheio de sofrer o desengano,
que erra tentando acertar
e acaba por alguém magoar.
Perfeição não existe.

Seletividade pífia de um coração em chagas abertas.
Vale de nada crer no que não se pode constatar.
Fica então em na alma uma vaga incerta,
que ainda que ouça mil promessas e palavras afins,
não posso acreditar
no que não está diante e junto de mim.

Quero cheiro, pele, e afeto.
Dizeres ao ouvido, corações inquietos.
Dia-a-dia olhar nos olhos e me tranquilizar.
Pois só quando fisicamente eu o tiver
saberei se é sincero o amor que me der
e o sentimento que diz pretender eternizar.

Não sou computador.
quero mais do que ler você.
Dá-me seu abraço, beijo e calor.
Envolve-me nas tuas carícias.
Permita que eu faça parte de sua vida.
Assim lhe mostrarei as minhas dores e delícias,
Só para que possa ver
que em verdades, palavras e sentimentos jamais fui contida.
Intensamente uma kamikaze, sou a vida...








A HORA DA VIRADA

POR: VIVIANE CABRERA






 
Chegou a hora de virar a mesa,

chutar para longe essa tristeza...

que cultivar não vale a pena,

pois a causa é pequena.



Abro minh'alma para o Acaso.

Espero que chegue sem atraso.

Já não aguento mais

conter meu eu e enclausurar minha paz.



Vou viver,

respirar ar puro e florescer.

Chegou a hora,

desse sonho realizar

que aqui dentro mora

e que eu vou concretizar!

RX DA SITUAÇÃO

Por: Viviane Cabrera



Domingo gelado

e o pensamento parado

no vão que sobrou...

do que restou.



Já raiou o sol,

enxergo os caminhos para onde vou.

Perseguir com determinação meus objetivos,

cuidar da família e amigos,

é a tábua de salvação

para meu coração

que nesse momento

se esmigalha em lamentos,

aguardando a redenção...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um Pouco Do Meu Muito



Por: Viviane Cabrera


Verdadeiro contraste de introspecção e volúpia. É um deixar-se levar pelos caminhos do Acaso, mas com suas próprias pernas rumar ao lado que se queira. Viver é um eterno retorno ao passado. Afinal, hoje é a superação do ontem e a base do amanhã. Quero solidez para construir uma estrutura definitiva. De todas as formas possíveis, procuro fazer o meu melhor. Não sei se é o bastante. No entanto, é o que tenho a oferecer.

Quem olhar através de mim saberá. A essência se sobrepõe ao que é aparente, tornando-me um tanto excêntrica a certa medida. Sustentam meu esqueleto a verdade e o sentimento. Sou o que escrevo. Entre sílabas e palavras, frases e parágrafos. Em cada um de meus textos, ali estou eu. Entrego-me sem reservas ao lápis e papel. Enfrento até mesmo a terrível tela branca do word com a espada desembanhada da criatividade.

Sou mulher de pimenta e açúcar. Se a pimenta não lhe aprouver, tampouco o açúcar servirá. Não escolha as cores para retratar-me sendo que não conhece as verdadeiras nuances do meu ser. Com um jeito um tanto desastrado, tropeço em situações que rendem histórias. Fazer o quê? A existência é uma loucura e estamos aqui para dar a cara à tapa, mesmo!

Por mais que tenha vivenciado experiências nada agradáveis, mantenho minha postura. Creio na vida, no ser humano. Tenho esperança de dias melhores. No entanto, essa sonhadora que acredita em contos de fadas, atrapalha o pragmatismo que se deveria ter. Num compasso desleixado, caminho na rua escura. Não tenho medo. Só quero dar os passos segundo a direção que meu coração quiser. Quem é muito racional, chega a robotizar-se pelo controle que faz de si mesmo e perde a sensibilidade. Chamem de irracionalidade! Mas na equalização do meu ser, sou mais emoção do que razão. Por acaso é crime? Se a resposta é positiva, já estou enquadrada...

Saio por aí. Sentir a brisa indo de encontro ao meu rosto, meu corpo, minha alma... Sensação que refresca meu âmago e alivia um pouco de tudo isso que não dou conta e que se chama EU...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crônica do Leito Vazio

Por: Viviane Cabrera






Fim de tarde. Passo a organizar cada canto de nosso ninho para que se sinta aconchegado. Aromatizo os ambientes com sândalo e deixo rastros com pétalas de rosas brancas no tapete vermelho que segue aos aposentos. Enquanto não chega aquele a quem devoto minha vida, fico imersa em uma banheira de sais e óleos perfumados. Dessa forma, minha pele será o pêssego macio que ele tocará.
Ao secar-me, espalho o mesmo sândalo que perfumou a casa no corpo inteiro. Assim, os braços e todo meu ser parecerão sua residência, seu refúgio seguro. 
Cai a noite. Visto a mais pura seda, para que quando me abrace, sinta tecido e pele uma coisa só.
Com mel nos lábios e corpo perfumado o aguardo. A cada dia, uma tâmara caramelizada coloco em sua boca. É símbolo de que estou em sua vida para torná-la mais doce, suave e alegre. Afinal, amar é adoçar a existência do outro e a nossa também.
Espalho nos aposentos, agora, pétalas de rosas vermelhas. Acendo velas e apago as luzes. Deitada no leito nupcial, aguardo o momento em que meu querido virá. Envolta na aura noturna de paixão e espera, iluminada pelo luar daqueles que se amam, fico ali imóvel. O mel nos lábios, o corpo, o coração ansioso a saltitar a cada barulho.
Cá estou eu, esperando aquele a quem fui destinada. O homem a quem devoto todo o meu amor. Peço aos deuses que ele chegue sorrateiramente e tome posse de tudo que lhe pertence. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Beija-Flor


Por: Viviane Cabrera





Vislumbrava o céu. Suas nuances de azul entrecortadas por bailarinas nuvens naquela imensidão atraía meu olhar. Os olhos ali, parados. E o mundo continuava a girar. Pássaros em sua infinita liberdade voavam e experimentavam a sensação única daquele bater de asas. Estática, admirava o que minhas vistas cansadas tinham ao seu alcance. Sentada no gramado e as costas apoiadas no tronco de uma árvore, vi quando caiu à minha frente um beija-flor.

Quando criança, queria que uma fada encantada me transformasse nessa ave. O bater frenético de suas asas reluzentes, o desembaraço com que iam de flor em flor colher o doce néctar e iam embora sem nem mesmo dizer adeus. Escolhiam as que mais lhe apeteciam. Podiam escolher. Eu não. Fora que o nome também é bonito: BEIJA-FLOR.  

Todavia, nunca passei de uma tímida garotinha que sonhava um dia poder abraçar o mundo e não só beijá-lo. Fitando o pássaro, minhas mãos involuntariamente o pegaram. Talvez houvesse algo que pudesse fazer para que ele restabelecesse sua avidez e vivacidade que outrora observei.

No entanto, tudo em vão. Estava segurando um cadáver e tentando lidar com o sentimento de impotência diante das circunstâncias.

Quantas belas flores deixariam de ter seu néctar colhidos pelo beija-flor? Quanto do céu ele não mais iria percorrer com sua penugem resplandescente ao sol e seu altivo bico a cortar o ar em seus mais altos vôos? 

Sem saber o que fazer pranteei o finado. Cavei junto à árvore um buraco fundo com as unhas mesmo. Queria que meu esforço fosse digno de meu estimado e falecido amigo. Após enterrá-lo, fiz uma busca ao redor para achar pedrinhas que pudesse colocar em volta de sua sepultura. Achei também dois gravetos, que amarrei com a linha que arranquei de meu vestido. Túmulo ajeitado. E lá se vai o último adeus.

Ao colocar um dente-de-leão sobre sua eterna residência é que me dei conta. junto ao beija-flor, sepultava também os sonhos pueris de um mundo em que fosse possível atravessar a vida sem se preocupar com a altura ou a queda. Um mundo em que escolher fosse direito garantido em constituição e em verdade executado tal qual estivesse na lei.

Mais um dente-de-leão depositado sobre o pequenino túmulo. Precisava ir embora. A realidade me chamava de volta ao cruel mundo em que minhas asas foram mutiladas.  

sábado, 14 de maio de 2011

Mais Um Capítulo no Livro da Vida

Por: Viviane Cabrera




Um belo dia a gente acorda e vê que as coisas não estão mais em seus devidos lugares. Passamos a tentar entender as razões dos acontecimentos sem ao menos correr atrás de uma solução imediata e palpável. E ao tentar desembaraçar tão nodosos fios, nos perdemos entre angústias e lágrimas desesperadas.
Com um turbilhão de pensamentos que nos fazem ter até vertigem, chega-se até a crer que a loucura é nossa mais fiel companheira. Mas uma pantera rasga por dentro o peito. Essas escoriações são a prova cabal de que o ser humano nada mais é do que refém de suas emoções e do acaso que o envolve.
Uma vez que existe, é obrigado a pensar para manter-se na condição vital que lhe cabe. E, ocupante de tal posição, deve sempre portar-se de forma a violentar suas vontades e abrindo mão das mesmas em prol de uma contrapartida material. Torna-mo-nos seres mecânicos, individualizados e ausentes de qualquer autonomia. Às vezes, chego a me questionar se não seriam Marx e Nietzsche profetas do apocalipse... 
Enquanto o barbudo com sede de justiça social alertava para a realidade alienante, o bigodudo em meio aos seus devaneios afirmava  - em palavras mais intelectualizadas, claro! - que a facilidade com que as coisas se apresentam "mastigadas" e a ausência do trabalho de ter de pensar nos leva a sentir vontade do nada. Sim, é a mesma coisa! Só que o último acrescenta a incessante vontade do nada. Porém, as adversidades são o momento da revolta. É aí que saímos da apatia cotidiana e nos colocamos a refletir e reavaliar o peso que as coisas tem em nossas vidas.
Sob instinto de sobrevivência, nos agarramos a todas as possibilidades para não cair no abismo pessimista do mundo que nos cerca. Cada mínimo detalhe faz a diferença nessa hora. Um carinho, uma palavra de conforto, um sorriso, um gesto qualquer. Uma única atitude significa que há alguém que se importa, que te ama e que estará ao seu lado para o que der e vier.
Diante disso, nos tornamos quixotescamente fortes com a espada da coragem desembanhada e reluzente sob o sol de um promissor amanhã. Sigo, eu também, nessa estrada desconhecida. Minha vantagem é ter a radiação luminosa daqueles que amo.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sonho Com Meu Bem

Por: Viviane Cabrera

 







Sonho contigo, meu amor.

E nessa quimera inebriante, sinto-me desfalecer.

Desfaleço pois a distância aumenta a dor

que sinto por aqui a meu lado não o ter.



Sonho com o momento em que me perderei em seus braços,

para me achar em uma felicidade sem fim.

Quero para a eternidade atar nossos laços,

ter para sempre você junto à mim.



Embebida desse sentimento, seguirei ao lado teu.

Sei que enquanto eu viver,

não há de ter

amor maior que o meu.



Não há para o que sinto uma explicação.

O que posso dizer

e que jamais hei esconder

é que só você faz pulsar meu coração.



Cada vez mais cresce a vontade de cuidar do amado meu.

Nele encontro refúgio e segurança.

E vejo viva a chama da esperança

de que aceites, para todo o sempre, o meu ser como sendo seu.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Crônica do Cotidiano

Por: Viviane Cabrera




Começa a semana. Todos os compromissos e rotinas insistem em reaparecer de forma a aprisionar àquela que anseia por sua liberdade. Ela se debate, pragueja, reclama. Mas não tem força o suficiente para se desvencilhar de tais grilhões. É até irônico pensar que depende deles para chegar aonde quer.
Agarrada involuntariamente à robotização, segue por ruas e becos imaginando como seria ter uma vida longe de tudo que a faz se sentir mal. Apenas um momento em que pudesse dizer não bastaria para iniciar-se uma revolução - ao estilo avassalador, que o mundo árabe conhece bem. No entanto, um não sei quê de Macabéa incorporou naquela garota de sonhos complexos e desejos insaciáveis.
A todo instante que se julgava errada perante os outros, insistia em pedir perdão e até clemência. Mesmo quando nem teria culpa. Porém, o fato de estar sendo desculpada por alguém aliviava o peso daquela existência demasiadamente fatigante. As desculpas aceitas eram suas aspirinas.
Mais do que um remédio, o que necessitava era um caminho que a levasse para longe de tudo aquilo que a perturbava. Todavia, era necessário driblar os obstáculos que se apresentavam sempre a frente de cada vereda. Teria ela ainda fôlego para superar isso tudo?
Já não sabia. Somente seguia retamente na esperança de chegar no ponto onde pudesse dar a partida e dirigir a vida de seu jeito. Um jeito um tanto singular, mas era assim que queria. Resta apenas saber se terá pulso para manter sua escolha.

domingo, 20 de março de 2011

Muito Além das Entrelinhas

Há que se desconfiar do largo e duvidoso sorriso norte americano. Assim pensava Raul Seixas quando compôs "Aluga-se".

 
Por: Viviane Cabrera
 
 


Zorra Total - Tal como a personagem Lady Kate, o Brasil comporta-se de forma ingênua quanto às reais intenções dos Estados Unidos.

Tem até ator global pronunciando-se sobre a visita de Barack Obama em solo tupiniquim, divulgando uma imagem simbólica do yankee. Mas a realidade é bem outra. Enquanto os brasileiros empolgam-se com a presença de ilustre celebridade, há quem esteja muito preocupado com isso.

Olhando por um lado nada platônico, podemos ver que esse encontro entre a presidenta Dilma Roussef e o líder da maior potência econômica não passa de um jogo de interesses comerciais. Os Estados Unidos passa por uma grave crise energética e busca novas alternativas. É aí que entra o Brasil.

Com o advento do Pré-Sal, a produção de biocombustível e a receptividade do mercado brasileiro aos artigos de importação, Obama vê nessa negociação uma oportunidade de manter a nação norte-americana na hegemonia econômica do mundo. Em contrapartida, Dilma Roussef coloca em pauta questões como um comércio mais justo e equilibrado - dado que há muitas barreiras aos produtos de exportação - e as ações protecionistas do Tio Obama Sam. Além disso expôs a intenção de uma possível parceria no setor de educação e de pesquisas. Algumas coisas chocam-se com outras, mas há intenções de ambos que convergem em determinados pontos. Lula se recusou a participar do jantar que ocorreu no Itamaraty com Dilma e Obama. Apesar disso, a presidenta afirmou que "foi uma boa visita".

Em entrevista concedida à BBC Brasil, a analista em relações entre o Brasil e América Latina do Council Foreign Relations, Julia Sweig, afirma que "Há dois níveis de melhora. Um tem haver com o nível presidencial. Isso não é superficial, não é somente pessoal, mas é uma maneira de criar um canal entre Washington e Brasília. Outra dimensão é que iremos ver uma série de acordos práticos para cooperar em desenvolvimento, segurança alimentar em outros países, biocombustíveis, educação, aumentar a conexão entre as duas sociedades".

Obama disse no Conselho de Segurança da ONU:"O que nos mobiliza é a certeza de que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e harmonia entre os povos". Traduzindo para o chulo português, o que o dirigente norte-americano quis expressar era que o intuito maior é deixar todos aculturados, o que facilita a receptividade do consumidor ao lixo que eles exportam - seja cultural ou em relação aos bens de consumo.

Quanto ao resto, esperam total subserviência. Afinal, eles não são os donos do mundo à toa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dedicatória

Por Viviane Cabrera



Caí prisioneira de gentil algoz.
Padeço das penas mais sublimes.
Estou clandestinamente segura.
O hipotético confirma-se.

Roubou meu olhar.
Atraiu minha atenção.
Meu coração hoje pulsa fora do compasso.
Nem sobre meus pensamentos tenho mais direito.

E fez-se cativo o cativeiro.
Despertei, quando, à noite,
o Amor iluminou sua face.
E tornou-se Redentor o carcereiro...

Saga

Por Viviane Cabrera




Por você, provei as dores e as delícias do amor.
Experimentei, a contragosto, o flagelo de espinhos
para poder ficar mais perto do teu calvário.
Também experimentei teus manjares,
para saber que gosto tens.

Por você, fiz simpósios.
Criei epopéias.
Retratei seu heroísmo.

Por você, combati infiéis.
Conquistei reinos.
Contrui castelos e te fiz rei.

Por você, voltei-me ao cientificismo.
Resgatei a antiguidade.
Tua história exaltei.

Por você fiz sermões.
Entrei em conflito entre o terreno e o celestial.
Cultuei meu "Rei Sol".

Por você fui simples.
Adotei pseudônimos.
Fiz de você meu "locus amoenos".

Por você voltei às origens.
Fui romântica.
Te entreguei meu condor.

Por você recorri ao evolucionismo.
Fui positivista e socialista
só para te determinar.

Por você fiz rima rica.
Retomei o racionalismo.
Cultuei tua forma.

Por você me tornei nefelibata.
Fui em busca da essência do ser humano.
Purifiquei minha alma com teu olhar.

Por você denunciei a realidade.
Usei linguagens nada poéticas.
Renunciei ao passado e te aceitei.

Por você, choquei a sociedade.
Experimentei vários falares.
Mas adotei apenas tua língua.

Por você, amadureci e me aprofundei.
Fui livre e sintética.
Fui intimista no teu mundo.

Por você, aproveitei a página em branco.
Concretizei meu desejo.

Por você, revisitei todos os tempos.
Fui clássica e moderna.
Tornei-me mulher.
Chorei.
Sorri.
Vivi.

sábado, 12 de março de 2011

Um Brinde à Vida e Aos Sonhadores

Por Viviane Cabrera




Amo a vida.
Aposto nos sonhos mais loucos,
nas sensações mais prazerosas e delicadas.
Acredito na promessa que há em cada amanhecer.
Creio nesse desejo de viver que é latente em mim.

É uma sinfonia que oscila as cifras a cada instante,
mas que mantêm sua base alegre e marcante.

Creio nas mudanças que me rondam.
Nas esperanças que me envolvem.
No sol que ilumina meu caminho.
Na brisa que abre as portas em que devo adentrar.

Agradeço à vida
pela beleza das coisas simples.
Pela simplicidade das coisas boas.
Pela qualidade dos momentos.
Por momentos decisivos
e pela decisão de viver a beleza.