Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Beija-Flor


Por: Viviane Cabrera





Vislumbrava o céu. Suas nuances de azul entrecortadas por bailarinas nuvens naquela imensidão atraía meu olhar. Os olhos ali, parados. E o mundo continuava a girar. Pássaros em sua infinita liberdade voavam e experimentavam a sensação única daquele bater de asas. Estática, admirava o que minhas vistas cansadas tinham ao seu alcance. Sentada no gramado e as costas apoiadas no tronco de uma árvore, vi quando caiu à minha frente um beija-flor.

Quando criança, queria que uma fada encantada me transformasse nessa ave. O bater frenético de suas asas reluzentes, o desembaraço com que iam de flor em flor colher o doce néctar e iam embora sem nem mesmo dizer adeus. Escolhiam as que mais lhe apeteciam. Podiam escolher. Eu não. Fora que o nome também é bonito: BEIJA-FLOR.  

Todavia, nunca passei de uma tímida garotinha que sonhava um dia poder abraçar o mundo e não só beijá-lo. Fitando o pássaro, minhas mãos involuntariamente o pegaram. Talvez houvesse algo que pudesse fazer para que ele restabelecesse sua avidez e vivacidade que outrora observei.

No entanto, tudo em vão. Estava segurando um cadáver e tentando lidar com o sentimento de impotência diante das circunstâncias.

Quantas belas flores deixariam de ter seu néctar colhidos pelo beija-flor? Quanto do céu ele não mais iria percorrer com sua penugem resplandescente ao sol e seu altivo bico a cortar o ar em seus mais altos vôos? 

Sem saber o que fazer pranteei o finado. Cavei junto à árvore um buraco fundo com as unhas mesmo. Queria que meu esforço fosse digno de meu estimado e falecido amigo. Após enterrá-lo, fiz uma busca ao redor para achar pedrinhas que pudesse colocar em volta de sua sepultura. Achei também dois gravetos, que amarrei com a linha que arranquei de meu vestido. Túmulo ajeitado. E lá se vai o último adeus.

Ao colocar um dente-de-leão sobre sua eterna residência é que me dei conta. junto ao beija-flor, sepultava também os sonhos pueris de um mundo em que fosse possível atravessar a vida sem se preocupar com a altura ou a queda. Um mundo em que escolher fosse direito garantido em constituição e em verdade executado tal qual estivesse na lei.

Mais um dente-de-leão depositado sobre o pequenino túmulo. Precisava ir embora. A realidade me chamava de volta ao cruel mundo em que minhas asas foram mutiladas.  

Um comentário:

  1. vivi mto bacana seu blog!
    vc escreve mto bem! amei o modo como escreve!
    e pelo conteudo de alguns posts pensei: talvez vivi ja conheça isso, mas se não, talvez ela goste,talvez a conforte, como me confortou, saber que ha movimentos brotando em nosso planeta a fim de transformar as coisas e assim a gente poder ser livre de verdade!" me refiro aos documentarios "zeitgeist" que deram origem ao movimento de mesmo nome que existe em diversos paises inclusive no BR. http://www.youtube.com/watch?v=prild_Ga9QE
    bjoka e parabens pelo blog!

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