Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Do Lúdico Em Mim

Por: Viviane Cabrera
 
 
 
 
 
Acho que nunca cresci. Continuo com olhos pequenos a enxergar essa vastidão de mundo e com necessidade de colo e aconchego. A lúdica vontade de explorar lugares e situações me acompanha a cada aniversário, mantendo cá dentro uma chama que jamais chegará a brasa.
 
Brinco de observar - minha brincadeira favorita - o que me cerca. São rostos, palavras, sons. Nessa sinestesia, tento extrair alguma percepção, de maneira que haja uma metamorfose gerando novas coisas, pessoas e circunstâncias. Pelo menos, que seja dentro de minha louca cabeça.
 
Essa cabeça que abriga mais do que cabelos, gosta de ter pensamentos confusos que resultem em uma conclusão. De enigmas que despertem meu interesse. De desafios que venham a instigar meu ser. Neles, fico presa, quieta e meditativa, arquitetando um esqueleto para dar forma ao que não é substancial e que pertence tão somente a minha cabeça. Louca cabeça.
 
Posso passar horas brincando com o que é supostamente sério. Não me conformo com a rigidez conveniente das relações interpessoais. Rir é tão bom, poxa! Sou fã da descontração. Pois, no fim das contas, ou eu dou risada de minhas desgraças, ou alguém o fará as minhas custas.
 
Idealizo muito e tanto, que às vezes me perco. Mas nessa perda é que me acho, nefelibata que sou. Por que não sonhar? Não há mal nenhum. E eis o que fez eu me aconchegar na poesia. Regras? Esquema de rimas? Ora! Poesia é sentimento! Exatamente por isso é que não pode ser medida ou submetida ao que é fixo e imutável. Poesia é mutante. Mutante como um sonho. Recuso a opção de ser pragmática e deletar do meu HD cerebral tudo aquilo que me diverte.
 
Ah! Se as pessoas de hoje usassem mais a imaginação! Quão ricas elas seriam! A alma está em como você encara a vida, de que maneira você a sente. Eu sou mulher com olhos de menina levada. Tudo o que quero cabe na palavra felicidade e escreve-se no caderno irônico de Deus.

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai É Pai

Por: Viviane Cabrera


Eu, em uma das minhas primeiras manifestações rebeldes de fuga e meu pai logo atrás, tentando me resgatar.


Viver é empostar-se sobre o verbo esperar a existência toda. Esperamos o crescimento para ter acesso e direito a determinadas coisas. Mas quando o conseguimos, queremos retroagir para a liberdade que tínhamos enquanto criança de não trazer nas costas o peso das responsabilidades.

É bem verdade que na infância as pessoas parecem maiores e os problemas menores. A principal preocupação está em organizar a brincadeira e executá-la. Para uma criança, a vida é feita de pequenas e simples coisas. Quando crescemos, complicamos proporcional a nossa idade. Sabe aquela filosofia de alcoólicos anônimos de um dia por vez? Eu era adepta. Ia pé por pé, respeitando o compasso. No entanto, cheguei a tropeçar nas próprias pernas. Daí cheguei a conclusão de que deve-se viver como se quer e do jeito que dá.

A experiência de anos vividos nos mostra quais devem ser as prioridades na vida e como reconhecer que merecem o devido valor. Há tanta coisa que turva a vista que perdemos a percepção do que realmente importa.

Digamos que eu e meu pai nunca fomos muito próximos um do outro. A máxima "dois bicudos não se beijam" é a melhor forma de definir nosso relacionamento. No entanto, não imagino um pai que não seja ele.
Severo e repressor, sim. Mas era a única maneira que ele entendia ser viável de demonstrar amor. De origem humilde e criado à rédeas curtas, quis reproduzir o que aprendeu com a vida. Não o culpo, pois fez apenas o que julgou ser o melhor. O seu melhor. E para mim, isso basta.
 
Agradeço ao meu pai pelos "nãos" que me contrariaram, mostrando que nem sempre a vida seria do jeito que eu quero. Agradeço pelos valores e princípios que nortearam a busca por me construir enquanto pessoa de personalidade e caráter forte. Agradeço as trocas de fralda, as noites mal dormidas por causa do meu choro. Agradeço por tudo aquilo que me fez chegar onde estou e que me fez o que sou.
 
Muito obrigada, Moisés Manoel!Te amo, pai! ♥

sábado, 4 de agosto de 2012

Ofício

Por: Viviane Cabrera





Escrever é um ato de volúpia. Luxúria que se dissolve em tinta ou pixels para traduzir desejos intensos de uma vida. Ao conceber palavras, o cérebro deixa escorregar na montanha russa dos sentimentos sentenças que, caso obtenham liberdade para tal, flutuam em direção ao outro.

O autor é mensageiro de percepções que lhe são alheias. É um instrumento divino em que as coisas passam através e voltam à tona com ressignificações dignas de um olhar atento, um coração pulsante e análise intelectual dedicada.

Há quem se deslumbre ao deparar com um escritor. Que nada! Ele é tão humano e falho quanto qualquer um. Tem vícios, defeitos, dificuldades. Muitas das vezes, leva uma vida tão normal que precisa da literatura para livrar-se dos grilhões tiranos da realidade. A mesma mão que digita um texto corta pão e passa manteiga, toma um café e se dá ao luxo de outras coisas as quais melhor não citar. Sim! É uma pessoa normal.

Contudo, o ritual da escrita acontece com um certo gosto pelo nome em letreiro grande e iluminado na jornada da humanidade. Quem nega, mente. E tem uma explicação plausível para o fato. Acontece que quem se permite desnudar em palavras o faz com o furor de um amante enlouquecido de vontade. Descortina uma vida nebulosa e a escancara em praça pública. E quem assim age, logicamente que aguarda o afago do reconhecimento por seu trabalho. Há que se ter coragem e o desprendimento como se tudo não passasse de uma peça de teatro grego (tragicomédia cotidiana). Coitado de quem julga pela palavra sem ao menos conhecer a história que há por trás dela. Não sabe o que está perdendo!