Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

EQUILÍBRIO NA CORDA BAMBA

POR: VIVIANE CABRERA





Daquilo que sei, a vida deu muitas voltas. Rodopiou tanto que é no ponto de partida em que me vejo. O tempo urge. Não há pesar, tristeza ou arrependimento. Somente invade uma sede intensa por concretizar os intentos do meu coração. De maneira racional, equalizo e calculo os próximos passos, para não mais cair nos embustes e armadilhas dessa miserável existência. Já que não se tem sorte, o negócio é fazer acontecer.

Não me dou ao trabalho de contar até dez. Vou ao três e expulso de vez o que não vale a pena. Não existe meio termo. Está disposto a seguir meu caminho? Ótimo, vamos juntos! Agora, não venha achar que pode me cercear, podar meu jeito. Quando chego no limite, digo até o que não quero. Só expulsando os demônios (saindo de dez em dez que é para não congestionar).

Olho a janela com grades. Através dela, vejo o sol, os pássaros a cantar, a brisa leve a rodopiar no meio das plantas e essas a sorrirem com as nuances de cores tais reluzindo à luz. Por que aqui dentro também não pode haver tal fenômeno simples de felicidade cotidiana?

"És eternamente responsável pelo que cativas". Qual o erro na frase? Na frase, nenhum. Mas o pragmatismo de pensar só em si é o problema. Felicidade é coisa que só se conjuga a dois e com o verbo estar. Dado que tudo é efêmero e perde-se valores facilmente, jamais seremos felizes.  Apenas o estaremos em poucos instantes. Com o tempo se aprende... Esperança deveria ser algo bom. No entanto, só machuca mais o que já está doendo. Como monólogos não são minha praia, necessito de diálogo para uma convivência harmônica. E do vazio, faço a engrenagem para buscar algo que me preencha.
Um quebra-cabeça de sete mil peças. Assim sou eu. Sigo a reinventar-me, a reconstruir-me sempre em busca de dias melhores. Pois, como já ouvi de um sábio: "A vida é isso:caiu? LEVANTA! Caiu de novo? LEVANTA!". E nessa ginástica involuntária vou existindo e espalhando minhas palavras por aí.

Em se tratando de sapiência, as crianças são as mais indicadas a nos ensinar. Pois segundo tal ciência, elas vivem o presente, sem saber o que é passado. Brincam, saltam, pulam, sem se importar que o tempo passa e o futuro irá chegar. Aprendamos, também, a realmente estar no presente e do passado se desfazer. O futuro só chega amanhã e hoje eu quero é brincar de viver.

Quando pequena, meu pai sentava no tapete da sala à minha frente e contava histórias fantásticas de heróis mitológicos, de deuses e deusas gregas que explicavam os mistérios dessa vida, sempre com um fim carregado de valor moral. Minha mãe já partia para os contos de fadas quando me colocava para dormir. Deveria ter absorvido mais sobre mitologia grega do que das estórias melosas de finais felizes. Hoje, seria mais pragmática e aceitaria com mais serenidade os acontecimentos.

O melhor da vida é que, imprevisível, desperta a capacidade de sonhar com as hipóteses do "e se". No silêncio que encontro, ouço o tilintar do sino dos ventos. Os carros todos em movimento. E meu corpo a entregar-se à essa rede molemente, à essa coisa simples que é a gente. Sinto apenas sede. Tenho sede do que não fiz, do que há de vir. Enquanto a rede balança devagar, me pego a pensar, no que foi e no que será. 

Vou usar é lavanda para me perfumar. Preciso do frescor em meu pensamento, da sensação de aconchego que lembra os cheiros da infância e do equilíbrio dessa bagunça toda. Não mais caminhar atada ao saco de pedras nas costas, quero a leveza de ser simples! Somente agir de coração leve. Os olhos fixos em um ponto com o corpo em movimento. Alma em intensa revolução e mente "em obras". O resto? Deixo acontecer.
 Há um caminho em que terei de escalar montanhas e me permitir a essa aventura. Também existe uma placa de atalho. Todavia, o que vale a pena é aquilo que se conquista com sangue e suor. Pois o que vem fácil, vai-se embora da mesma maneira. A vida é feita de tentativas para que a concórdia reine. Algumas vezes ficamos felizes ao ver que valeu a iniciativa. Já em outras...

Viver é ter resiliência para se adaptar às situações se apresentam. Pode-se tropeçar, cair e se quebrar. Contudo, o que vale é o como, quando, e as razões para se levantar. Viver não tem preço. É uma experiência alucinante e docemente suicida. 
 
Amo brisas gélidas de inverno. É no frio que me ponho a expandir o calor do meu ser. Quando estou disposta e tão leve, que a própria brisa me leva consigo.

Mas já é setembro. Que a primavera traga não só flores, mas também bons frutos, cores, curas, sensações, sabores e vida. Assim como a flor de lótus, estarei sobre as águas de tormenta mas não me deixarei molhar. Superação é a palavra de ordem para manter o equilíbrio.




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