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Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sábado, 22 de maio de 2010

De como não desandar a massa

Cientista político analisa o cenário atual do país e comenta sobre a participação da TV nesse angu.


                                                           Por Viviane Cabrera



Inicia-se mais um ano eleitoral e, com ele, emissoras de televisão preparam-se para liderar a audiência durante os programas de debate político. São esses os momentos decisivos em que alguns candidatos se sobressaem e acabam por ganhar uma eleição.


Desde a redemocratização do Brasil, vemos que os meios de comunicação passaram a divulgar conteúdos de caráter propagandístico, beneficiando a determinados políticos e partidos. Dessa forma, os veículos utilizam-se do direcionamento de informações através desse suporte que tem grande alcance entre eleitores em todas as classes sociais e com interesses distintos.

Entrevistado sobre o assunto, o cientista político Humberto Dantas* afirma que o posicionamento das mídias televisivas já foi mais escancarado. Autor de vários livros sobre democracia e o cenário brasileiro atual, crê que a isenção está próxima da utopia, dado que em certas circunstâncias é correto que um veículo de comunicação se posicione para que possa ofertar ao espectador a possibilidade mais precisa de saber onde está pisando.

Apesar de defender a transparência no posicionamento ideológico, programático e de crença política, o cientista diz temer o grande perigo que está nos “donos do poder” midiático. Explica-se com o fato de no Brasil existir um exagerado contingente de políticos que são proprietários de emissoras de TV. Garibaldi Alves tem uma afiliada da Globo, José Agripino tem uma afiliada da Record, Micarla do SBT e assim por diante.

No livro O Ataque a Razão, de Al Gore, o autor afirma que a televisão é o maior meio de (des) informação de massa, mantendo seus telespectadores reféns e exercendo o poder de influenciar no comportamento de toda uma sociedade. Estaríamos então fadados a nos transformar em “audiência receptiva” ao invés de cidadãos informados? Sob a ótica de Dantas, somos acomodados.

Ele ainda complementa mencionando que no Brasil a sociedade sabota o Estado a todo o momento e cultua o pouco caso com a coisa pública. Segundo o teórico, “a TV colabora com esse tipo de abismo. Mas fica aqui um dilema de causalidade: a TV é ruim porque a sociedade é ruim, ou a sociedade é ruim porque a TV assim o é? Com alta capacidade para se adaptar e mudar sua grade de programação conforme as demandas captadas em pesquisas, se a sociedade for educada e se tornar mais crítica, a TV muda”.

O advento das novas mídias contrapõe o que Al Gore coloca em seu livro quando mostra que a má influência da TV se dava por não ter participação de seu público e ser um conteúdo, de certa forma, imposto. No entanto, o que mais parece uma discussão sobre Corinthians versus Palmeiras só terá fim depois de toda uma reestruturação da mentalidade brasileira. Pois num país onde um ignorante ganha milhões e o piso salarial de um professor é de 850 reais, não podemos falar em seriedade. Estamos no limite.



*Humberto Dantas é Cientista Político, professor da Universidade São Camilo. Co-autor do livro A Introdução à Política Brasileira (Editora Paulus, 2007), apresentador do programa “Despertar da Cidadania” que é exibido das 06h30 às 7h00 aos sábados na Rádio América (AM 1410 MHz). Faz trabalhos em parceria com o Instituto Legislativo Paulista, ministrando cursos gratuitos de Iniciação Política que visam à conscientização da sociedade.

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