Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A Pipa Amarela

Por: Viviane Cabrera






Hoje uma pipa amarela invadiu meu jardim. Perdeu-se ela ali em meio aos arbustos e enrosquei-me em sua rabiola, tentando galgar o céu. É que em pensamentos, fui subindo mais alto do que deveria e quando vi, estava lá entre as nuvens, brincando de voar.

Essa pipa trouxe fagulhas de meninice que cambalhotavam em ideias fixas. Eram elas detentoras das vontades mais pueris possíveis. Sei que repleta de tanta benesse, deixe-me descansar no gramado com os olhos cerrados e um sorriso melífluo nos lábios. Veio então o sol aquecer o corpo branco e sem viço que se perdia em um roupão grosso e desengonçado. 

Logo, a pele bronzeada dava lugar ao inexpressivo que povoava os poros. Mas ainda não era o bastante. Acontece que apesar de tantas cores registradas ali na tela mental, o amarelo daquela peça de brincadeira infantil impregnou na alma. Queria de alguma forma pintar o mundo naquele tom peculiar que me instigava a continuar vivendo. Queria tingir o que pudesse daquela cor que me incitava a odiar o lodo, a escuridão, a tristeza, a melancolia.

Empinei a pipa com os mais puros sentimentos que havia dentro de mim. Tudo aquilo que era luz e caminho de bem em minha alma e coração tornou-se força motriz para fazer a pipa subir tão alto quanto jamais poderia ter ido qualquer foguete. Chegou pertinho do Astro Rei e não podendo de tanta felicidade à altas temperaturas de entusiasmo, desfez-se em um instante mágico.

Acho que sou um pouco Ícaro, um pouco dessa pipa que quer tocar o sol. Tenho tantos sonhos cá dentro, que às vezes julgo ter latente ainda a ingenuidade dos primeiros anos de vida. Contudo, a vida teima em colocar asas de cera em minhas costas para lembrar-me de que não há perfeição nos caminhos da existência. Pisamos espinhos e somos obrigados a acostumar com a dor. Eis que não só não me acostumo a essa tragédia anunciada, mas também me recuso a aceitar que a queda será dolorosa. Pode ser que eu aprenda algo com ela.

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