Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sábado, 19 de maio de 2012

Efêmera

Por: Viviane Cabrera





Eu que tinha tanta vida, hoje morro pouco a pouco. Vou desfazendo, deixando pedaços meus em lugares, pessoas e coisas. Por ter essa hanseníase sentimental é que me lanço constantemente ao fogo para depois olhar as cinzas se espalhando pelo ar.

Dançando e rodopiando, brincam de existir onde um dia fizeram morada sem se dar conta de que não passam de cinzas apenas. Restos do que puderam ser em algum tempo.

Flutuo por memórias, como se lembrá-las fosse revivê-las. Passeio por elas como quem visita um amigo das antigas para trazer à tona um passado vigoroso e feliz. Mas a realidade pesa a ponto de nos submeter à lei da gravidade.

Com doses alegres de boas recordações e amargas de tragédias particulares, sigo o caminhos da areia do destino fazendo pegadas. Ficam elas enfileiradas. Passo a passo que dei registrado na efemeridade da areia. O que de maneira alguma retira sua beleza.

Contudo, essa mania de querer permanecer em tudo que é inconstante e transitório vem me matando paulatinamente. Tento fixar estrelas em buracos negros esperando encontrá-las sempre no mesmo lugar. Vã expectativa essa que consome o ser e resulta nesse desfazer de mim, espalhando-me a quem amo, a quem quero bem.

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