Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

terça-feira, 26 de março de 2013

Ecos de Uma Reflexão



Por: Viviane Cabrera





Em uma das visitas à Favela da Linha, no bairro da Vila Leopoldina, aqui em São Paulo, fui conversar com dona Maria Nascimento de Jesus, de 58 anos. Ouvi uma frase que soou como sentença, como um tapa na cara - daqueles que você nem reage, tal a surpresa com que vêm.

Apesar da obviedade do que disse, as reflexões foram tão profundas que me agarrei a elas naquele momento, desviando a atenção da realidade. Por instantes, vi diversos pensamentos navegando em um oceano de águas revoltas. Um turbilhão de sensações passou a me atormentar sem mais nem menos. 

“A vida é feita pra se agoniar”, afirmou dona Maria, estabelecendo essa certeza em uma frase solta dentro de nosso bate-papo de comadres recém-conhecidas. Mal sabia o impacto que teriam suas palavras.

Então, minha cabeça começou a girar em meio a alguns questionamentos. Seria mesmo o sofrimento um mal necessário? Haveria jeito de escapar da loucura desconexa a qual estamos fadados a enfrentar cotidianamente?

Enquanto aquela senhora continuava a contar um pouco mais de sua trajetória, os ditos me enlaçavam apertando fortemente. Comecei a ficar incomodada. Estava perdida em pensamentos, quase sufocada de ansiedade para descobrir a chave do enigma que pousava como uma lâmina sobre minha cabeça. Tive de interromper a conversa. Em uma breve despedida, marcamos nova data para visitá-la a fim de dar seguimento à nossa prosa.

O primeiro lugar silencioso em que pensei em me enfiar foi em uma igreja. “Aqui poderei refletir um pouco, em completa paz e silêncio. Aquele pessoal consegue encontrar conforto nesse tipo de lugar. Por que raios eu não haveria de conseguir?!”, raciocinei. Contudo, parece que ânsias e dúvidas ecoavam, reverberavam naquele local sacrossanto. Não havia ninguém senão eu. 

 Na rua novamente, olhei para o céu e vi que estava para cair a chuva costumeira de final de tarde. Estava sem guarda-chuva, como sempre. Caminhei com as mãos nos bolsos e a cabeça pesada, carregando a confusão toda. 

Com seu jeito simples, dona Maria me mostrou o aspecto cru da existência, que não havia reconhecido até então. Em uma sucessão de repetições, vemo-nos envoltos nos mais diversos problemas. E os resolvemos. No dia seguinte há outro para azucrinar a paciência. 

“A vida é feita pra se agoniar”, ouço ainda aquela mulher sofrida dizer. Não há o que fazer a não ser concordar. Sábio como ela, o poeta, dramaturgo e romancista siciliano Luigi Pirandello escreveu: “Somos todos prisioneiro dos fatos”. E sou obrigada a acrescentar que contra eles, meu bem, ninguém pode. Nem mesmo os argumentos.

Agradeço à dona Maria...

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