Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Uma Brisa, Uma Frase e Vários Sonhos

Por: Viviane Cabrera
 
 
 

Certa vez me disseram que só pode oferecer água quem tem um poço dela repleto. Por não achar água onde julguei que encontraria é que vou em busca de novos caminhos. Os olhos necessitam de horizontes diferentes, pois acostumaram-se demais ao cenário de então. 


Não se trata de apontar o dedo para o outro, mas de aceitar e respeitar meu jeito, não violentando-o. Cansei de muita coisa, inclusive de me excluir da lista de prioridades. Um dia a gente acorda, baby. E ainda bem que não é tarde demais.

Todos os dias, encaro de frente esse enigma da Esfinge da Vida. "Decifra-me ou devoro-te!", brada imperativamente ela. No entanto, são tantas as armadilhas e seus embustes que já não sei mais qual é a vantagem do que. Pois que me devore. Continuo como Sócrates, tendo a consciência de minha total ignorância.

Aí é que decidi calar. Não sei por quanto tempo essa necessidade intrínseca pelo silêncio há de durar. Até mesmo porque não sei ouvir quieta à descabidas palavras sem que me manifeste. Perdi a conta das vezes em que olhei no espelho e vi transfigurado meu olhar. Perturbou-me de tal forma saber que já não eram meus olhos, mas a maneira de olhar que se refazia numa espécie de metamorfose que resolvi calar para acompanhar com atenção os tic-tacs de um tempo que voava livre de qualquer obrigação.

Apenas calculo que será suficientemente preciso para retomar o fôlego e emergir das águas gélidas as quais tenho deixado meu corpo afundar. Como diria Fernando Pessoa, "Falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase. E a vida dói quando mais se goza e quanto mais se inventa". Quero compreender essa falta, essa dor. Quem sabe assim ela passa.

Vivemos numa existência solta, em um universo absorto no silêncio. Ainda que coberta por ele, procuro na escrita a válvula de escape. Escrever é um constante exercício para livrar-se de antigos demônios. Os meus precisam sair devagar para não congestionarem e atrapalhar todo o processo.

Já foi dito - e muito bem dito, por sinal - que os defeitos também são necessários para compor o aquilo que se chama "eu". Eis em mim complexidade de antíteses que se completam na incoerência que há em ser humana, demasiada humana. Sou ao cubo. Não vou na maré de opiniões alheias. O que me satisfaz é o que enternece alma e coração. Apego-me apenas a esse conceito e sigo em frente. Sempre. Cabeça erguida, ombros alinhados e os pensamentos correndo na mente.
 
Solidão é mesmo um momento ímpar. É quando podemos olhar para dentro e nos perder em infinitos detalhes e descobertas. Nessa perda que nos encontramos cada vez mais. Ando aprendendo a me ilhar, cercar-me da água do acaso e esperar o resgate da vida. Já não tenho forças para ir tão alto nem paciência para descer tanto. Sonhos eu carrego no coração e não me furto a entregar-me a eles. É a única chance que eles têm de serem concretizados e eu de ser feliz.

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