Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sábado, 21 de julho de 2012

Crônica De Um Tempo Que Parece Não Ser Meu

Por: Viviane Cabrera






Ando cansada das frivolidades a que estamos contantemente expostos. Nossa época de individualidade, isolamento, incomodou o suficiente para que eu venha a soltar o verbo nessas mal digitadas linhas.

A sociedade nos cobra a todo instante uma serenidade falsa, sensatez e que sejamos frios, pragmáticos, produtores e reprodutores. Cansa ter de atender a tantos paradigmas quando na realidade o que se quer é ser só "EU".

Esse eu que não tem dono, um eu rebelde e com vontades próprias está preso entre grades de uma série de conveniências sociais que tentam moldá-lo a um padrão aceitável para que o convívio coletivo seja harmônico.

Nas ruas as pessoas não mais se olham nos olhos. É que o tablet, o i-Phone, o smartphone nos chama ao mundo paralelo da virtualidade. Não escutamos nem dizemos "Bom dia!", pois o volume de nossos fones de ouvido estão altos demais para nos trazer de volta a nossa humanidade. Num tempo em que o face à face foi substituído por facebook e outras redes tão impessoais quanto um veredicto divino, as pessoas (sobre)vivem com um ponto negro no peito.

No entanto, a indústria farmacêutica aproveitou-se do aparecimento dessa sensação de vazio - "mal" do século XXI - pois viu aí uma oportunidade de crescimento. Não se pode mais ter um simples banzo por um tempo sem ser diagnosticada como depressiva(o), além de receber em mãos um monte de receitas de tarjas pretas que suprem frustrações, tristezas, decepções, rejeições. São muitas problematizações de coisas simples.

Buscamos uma solução que não é concreta, substancial aos nossos problemas. Desdenhamos do lúdico e cultuamos uma realidade cinza e sem atrativos. Ora! Sonhar com melhorias para si e para os outros não é besteira nem falta de lucidez.

Aqueles que deixaram sua marca na história o fizeram pois tinham sonhos e os alimentavam com a vontade de concretizá-los e com sua persistência, mesmo diante de pequenas derrotas. Arregaçaram as mangas, foram contra a maré de críticas do tipo "É loucura! Depois não diga que eu não avisei". Mais do que em si mesmo, acreditaram nas possibilidades. Por esses sonhos, choraram, passaram noites sem dormir. Porém, ao final da jornada, colheram os bons frutos da semente por eles plantada: a vitória.

Antigamente era mais fácil ser um sonhador. Hoje, é inaceitável. Tudo deve ser prático, simples e rápido. Sem muito esforço, de preferência. É aí que bate uma nostalgia de tempos que não vivi, mas que os livros trouxeram a meus olhos o conhecimento dos fatos. Quisera eu poder andar no mundo da lua, com pensamentos vagando pelos mais diversos cantos do meu cérebro e os neurônios a tilintar com essa movimentação. Quisera eu ao fim do dia, em minha cama, achar que todo o esforço feito vale a pena. Quisera eu. Quisera...

Um comentário:

  1. Gostei das reflexões Viviane. Penso que talvez devamos pensar como utilizar a internet, as redes sociais para promover a convivência e não o isolamento. São instrumentos, ferramentas que podem ajudar a uma comunicação sem mediação, a descoberta de coisas do mundo que não estariam ao nosso alcance com os jornais, revistas... (fortemente monopolizados pelo capital). No mais, a análise da crise civilizatória que vivemos está perfeita. Vamos ousar a sonhar, a pensar diferente e a agir na realidade para transformar as estruturas postas. beijo

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