Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Filosofia Hortifrutigranjeira do Amor

Por: Viviane Cabrera




Pedro Almodóvar me entenderia. Só ele para analisar a beleza e a desgraça das coisas de forma tão brilhante. Um sentimento, por mais penoso que seja, tem sua magnitude assegurada justamente por existir.

Diz a lenda que no começo do mundo homens e mulheres eram um só corpo. No entanto, em razão da desobediência aos deuses, a esfera foi dividida ao meio. Sendo assim, o castigo dos seres humanos seria a eterna procura por seu par. Mitos à parte, por longo período o gênero feminino acreditou que não haveria vida fora do casamento. Nasciam sob a dependência do pai, passando para a do marido e terminando por depender dos filhos. As perspectivas de mudança eram quase nulas. Alguns valores alteraram-se, gerando um outro tipo de comportamento na sociedade.

Com a emancipação da mulher e sua entrada definitiva no mercado de trabalho, ela deixou de se preocupar com o lado afetivo e passou a dar mais atenção à sua formação acadêmica e à questão da competência profissional. O que antes era submissão ao sexo oposto, tornou-se competição.

No âmbito dos relacionamentos a competição chegou a tal nível que a mulher, em seus atropelos ao tentar galgar um espaço a que antes não tinha acesso, masculinizou-se. Ouso dizer que, talvez o único traço de feminilidade que ainda carregamos é a maternidade. Pois é através dela que mantemos contato com o divino, perpetuando o ciclo da vida e garantindo a existência da espécie humana na Terra.

Mas, como toda regra tem sua exceção, algumas teimam em achar que somente o "príncipe encantado" as fará despertar desse sonho ruim em que vivem. Traduzindo segundo Cazuza, são "carentes profissionais". Em meio a amores masoquistas (visto que trazem mais sofrimento que felicidade), suspira-se pelos cantos, sonhando com um final feliz.

Todavia, a loucura deste tempo em que nos encontramos leva a algumas reflexões: o homem agora tem medo e não sabe mais como lidar com essa "nova mulher", enquanto que ela experimenta uma liberdade dúbia, mas também acredita que só será completa com um homem a seu lado.

Apesar dos pesares da pós-modernidade, enquadro-me na última definição. Parece mesmo que abriguei um porco espinho dentro do meu coração: a cada vez que ele tenta aconchegar-se, os espinhos ferem de tal forma que não sei se choro ou se me alegro.

Fosse em outra época, declararia sinceramente meu amor com requintes poéticos de Vinícius de Moraes. Mas agora, não. Não posso dar o braço a torcer. Mesmo porque, e se ele não der a mínima? Onde fica o orgulho nisso tudo, hein?

Encerro com uma certeza em mente: o amor é uma via de mão dupla e eu uma barbeira, fazendo ultrapassagens proibidas. Quem sabe um dia, com um desses cursinhos de reciclagem que a vida dá, eu aprenda de fato que sou completa mesmo sendo a azeda metade da laranja.





4 comentários:

  1. Mas até a metade azeda da laranja tem seus apreciadores.

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  2. Viviane,

    De coração....SENSACIONAL!!!! Adorei!!!! Muiiiito bom!!!! Expressa o sentimento de várias mulheres (inclusive eu).
    Parabéns!!!

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  3. Que bom que consegui tornar plural algo particular! Fico feliz por ter gostado, Rose!

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