Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Mais Um Eco

por Viviane Cabrera



Tem alguma coisa inflamada aqui dentro. Eu sei que tem. Já ando a alguns dias revirando na cama e com suores estranhos. Os pensamentos dão tantas voltas e transformam a situação em algo nauseante. Médicos me visitam com frequência, mas tudo é em vão. Cada remédio prescrito, alimenta a doença.
O medo que dá é de um dia acordar como Samsa, metamorfoseada em um inseto nojento e repugnante aos olhos dos outros - ainda que em pouco tempo eu me acostume à nova condição. Suportar sobre o dorso as pressões advindas da sociedade, família e demais células das quais faço parte sem a promessa de uma libertação. Já não sei mais se Atlas foi sábio em aceitar o castigo ou se ensandeceu de vez.
Entre delírios de Ícaro e reflexões aludindo a realidade, a febre toma conta do corpo e faz com que trema cada mísera parte dele. Passo a passo, essa coisa se alastra tal qual notícia ruim em cidadezinha pequena. Vai além das minhas vontades e aspirações, percorrendo os caminhos físicos e espirituais que encontra em mim.
Caso tenha um elixir milagroso, gostaria de testá-lo. No entanto, o ceticismo à que fui compelida impede que eu acredite ainda. Trilho por caminhos tortuosos há tempos. Ninguém estendeu a mão para levantar o corpo que viram caído no meio da estrada. Jamais vi comoção nos olhos das pessoas às quais conheci.
Talvez esse meu coração vagabundo, gauche por natureza, precise dos parafusos de que tenho a menos na cabeça. Sentimento enfraquece a mente e debilita o corpo. Está comprovado pelo que vejo atualmente: uma garota sem GPS para localizar seu paraíso, doente por não poder alçar vôo para encontrá-lo.
Quem sabe um dia, terei alguns minutos próxima do Sol que me guia. Fatídicos minutos que podem modificar toda uma existência. Poço de sentimentos quixotescos, assim sou eu. Por isso me mantenho viva. É por esses simples momentos que suspiro aqui reclusa em meu microcosmos particular.
"Liberdade Ainda Que Tarde!", bradou o herói no ápice de sua história. Assassinaram o homem, mas não houve jeito de suprimir seu grito. Quero também poder gritar para registrar na alma de quem ouvir minha ânsia de viver. E, hei! Se eu quiser pular, por favor, não me segure. Às vezes preciso voar.

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