Por: Viviane Cabrera
Cuido do jardim, mas os pensamentos não deixam de circular na cabeça. Pesa tanto que me fazem pender e andar até curvada. De uns tempos para cá, cheguei inclusive a esvaziar-me. Andava muito cheia de passado. Aí comecei a preencher com novas esperanças. Só que também não deu nada certo. Elas pesam toneladas e arrastavam para os cantos mais obscuros. O perigo disto está em não conseguir sair mais do lugar por causa da enorme carga.
Passeava entre as flores, regando algumas, afofando a terra de outras. Até que em certo ponto, como que criando raízes, detive-me diante de uma em especial. Diferente das demais, era pequena, franzina e sem muita cor. Mas estava ali. E devia haver uma razão plausível para isso.
Enroscada timidamente em um metal que beira à parede, sobe e brinca de enrolar-se nos varais de roupas com seus galhos, folhas lânguidas de um verde musgo brilhante e suas flores - pequeninas bolsinhas brancas que guardam um mistério não revelado - fechadas para esconderem-se do sol. É o jasmim-da-noite.
Essa mesma flor que se esconde enquanto tantas outras desabrocham formando cascatas de cores que brindam quem vê, liberta sua beleza e inconfundível perfume quando os desatentos não podem dar-se conta disso. Apenas quem realmente interessa e quem gosta é que a enxerga, a sente e a percebe como deve. E talvez seja assim que deva mesmo ser.
Enquanto olho maravilhada o espetáculo que a natureza fornece, paira uma dúvida. Não seria eu um jasmim-da-noite também?
Hipóteses. Concretas ou abstratas, fazem parte das possibilidades que constam em minha lista. A luz nunca foi meu forte e mostrar as cores para qualquer um perde a graça. O perfume que carrego satisfaz o gosto de muito poucos e não está para ser desperdiçado. Nem paciência para isso tenho.
De dia, exposta aos olhares alheios, sinto-me fechada, mostrando só o detalhe esverdeado do que está aparente e superficial. Contudo, é ao longe que liberto meu ser para que possa em plenitude expandir em vivências e sentidos mil.
Quem sabe numa dessas madrugadas, iluminada sob a luz da lua, eu possa ter da reflexão o suficiente para extrair sentença que me caiba. Não preciso de platéia. Afinal, o melhor aplauso é o que damos a nós mesmos em gratidão por ter feito algo de que gostamos.
Certamente merece estes teus própros aplausos. E também os meus. Lindo Vivi! bjs!
ResponderExcluirObrigada, querido! Beijos!
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