Por: Viviane Cabrera
Em uma das visitas à Favela da Linha, no bairro da
Vila Leopoldina, aqui em São Paulo, fui conversar com dona Maria Nascimento de
Jesus, de 58 anos. Ouvi uma frase que soou como sentença, como um tapa na cara
- daqueles que você nem reage, tal a surpresa com que vêm.
Apesar da obviedade do que disse, as reflexões
foram tão profundas que me agarrei a elas naquele momento, desviando a atenção
da realidade. Por instantes, vi diversos pensamentos navegando em um oceano de
águas revoltas. Um turbilhão de sensações passou a me atormentar sem mais nem
menos.
“A vida é feita pra se agoniar”, afirmou dona
Maria, estabelecendo essa certeza em uma frase solta dentro de nosso bate-papo
de comadres recém-conhecidas. Mal sabia o impacto que teriam suas palavras.
Então, minha cabeça começou a girar em meio a
alguns questionamentos. Seria mesmo o sofrimento um mal necessário? Haveria
jeito de escapar da loucura desconexa a qual estamos fadados a enfrentar
cotidianamente?
Enquanto aquela senhora continuava a contar um
pouco mais de sua trajetória, os ditos me enlaçavam apertando fortemente.
Comecei a ficar incomodada. Estava perdida em pensamentos, quase sufocada de
ansiedade para descobrir a chave do enigma que pousava como uma lâmina sobre
minha cabeça. Tive de interromper a conversa. Em uma breve despedida, marcamos
nova data para visitá-la a fim de dar seguimento à nossa prosa.
O primeiro lugar silencioso em que pensei em me
enfiar foi em uma igreja. “Aqui poderei refletir um pouco, em completa paz e
silêncio. Aquele pessoal consegue encontrar conforto nesse tipo de lugar. Por
que raios eu não haveria de conseguir?!”, raciocinei. Contudo, parece que
ânsias e dúvidas ecoavam, reverberavam naquele local sacrossanto. Não havia
ninguém senão eu.
Na rua
novamente, olhei para o céu e vi que estava para cair a chuva costumeira de
final de tarde. Estava sem guarda-chuva, como sempre. Caminhei com as mãos nos
bolsos e a cabeça pesada, carregando a confusão toda.
Com seu jeito simples, dona Maria me mostrou o
aspecto cru da existência, que não havia reconhecido até então. Em uma sucessão
de repetições, vemo-nos envoltos nos mais diversos problemas. E os resolvemos.
No dia seguinte há outro para azucrinar a paciência.
“A vida é feita pra se agoniar”, ouço ainda aquela
mulher sofrida dizer. Não há o que fazer a não ser concordar. Sábio como ela, o
poeta, dramaturgo e romancista siciliano Luigi Pirandello escreveu: “Somos
todos prisioneiro dos fatos”. E sou obrigada a acrescentar que contra eles, meu
bem, ninguém pode. Nem mesmo os argumentos.
Agradeço à dona Maria...