Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Uma Crônica Oftalmológica


Por: Viviane Cabrera      







Passei a vida inteira enxergando as coisas por um prisma. De repente, duas janelas fixaram-se ante meus cansados e pesarosos olhos, abrindo um mundo de novas possibilidades a minha frente.
 
É bem verdade que no começo mais pareciam duas traves que impediam o ângulo calculado de visão para que eu pudesse me mover adequadamente. Foram dias e dias tentando ajeitar o novo adereço no lugar que antes era livre de qualquer barreira. O artífice até poderia vir a ser um bem. O problema foi - e ainda é - o processo de aceitação estética.
 
Imagine só sua imagem fielmente refletida de um jeito no espelho por longo tempo e num atropelar de acontecimentos, surgir um objeto estranho nesse reflexo com o qual você será obrigada a conviver.
 
Mais complicado do que aceitar-se diferente é ver as pessoas que nos cercam adaptarem-se à nossa nova realidade. Há quem incentive, dizendo que parecemos mais intelectuais. No entanto, sempre tem aquele urubu que detona com tudo. Para as aves de rapina, uma banana de dinamite.
 
Não sei. Mas desde que coloquei essa armadura oftalmológica, passei a me sentir mais confiante. Vai ver que a miopia, o astigmatismo, bloqueavam a visão de coisas que não eram substanciais também. De qualquer forma, é uma experiência em que reaprendo a ter outras percepções. Talvez eu venha a renascer. E nem precisa ser das cinzas. Basta ser de um novo olhar.