Literária sempre. Monótona, jamais.

Devaneios de um protótipo humano na infoesfera.

sábado, 19 de maio de 2012

Efêmera

Por: Viviane Cabrera





Eu que tinha tanta vida, hoje morro pouco a pouco. Vou desfazendo, deixando pedaços meus em lugares, pessoas e coisas. Por ter essa hanseníase sentimental é que me lanço constantemente ao fogo para depois olhar as cinzas se espalhando pelo ar.

Dançando e rodopiando, brincam de existir onde um dia fizeram morada sem se dar conta de que não passam de cinzas apenas. Restos do que puderam ser em algum tempo.

Flutuo por memórias, como se lembrá-las fosse revivê-las. Passeio por elas como quem visita um amigo das antigas para trazer à tona um passado vigoroso e feliz. Mas a realidade pesa a ponto de nos submeter à lei da gravidade.

Com doses alegres de boas recordações e amargas de tragédias particulares, sigo o caminhos da areia do destino fazendo pegadas. Ficam elas enfileiradas. Passo a passo que dei registrado na efemeridade da areia. O que de maneira alguma retira sua beleza.

Contudo, essa mania de querer permanecer em tudo que é inconstante e transitório vem me matando paulatinamente. Tento fixar estrelas em buracos negros esperando encontrá-las sempre no mesmo lugar. Vã expectativa essa que consome o ser e resulta nesse desfazer de mim, espalhando-me a quem amo, a quem quero bem.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Aos Quatro Ventos

Por: Viviane Cabrera






Vento vem levar

o que estático quer ficar.

Aquilo que flutua

entre minha minha alma nua

e o pensamento seu

vai-se indo,

subindo

contrário ao desejo ateu.


E nesse vôo ascendente

rasgando o céu e o coração tão crente,

eis que abro os braços e falo.

Digo sentenças e depois me calo.

Coisa de quem sofre sem caminho,

de quem guarda em si espinho

que não se pode retirar,

pois que com ele é que se aprendeu a amar.


Céu límpido e vasto,

cheio do anseio rebelde e casto

de um dia vir a ser

o que tempo algum deixou acontecer.

E assim sonho cá um pouquinho.

Nesse mundo cão, sou passarinho

a voar sem pensar no risco.

Voar.

Mas sempre para o ninho

voltar.

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe

Por: Viviane Cabrera




Mãe é abraço,
é laço
que envolve e enternece.
Alguém que ao coração apetece.
É a voz da experiência.
Mãe é excelência.

Mãe é mão gentil que afaga.
Voz macia na fria madrugada.
É aconchego quando somos dor.
É a mais pura manifestação de amor.

Ela é base, alicerce, telhado,
nesse mundo tão vazio e desestruturado.
É fonte de vida e alegria,
é esperança de que algum dia
acertemos o tom nessa sinfonia
a que somos obrigados a orquestrar
com a coragem de quem há de vitórias conquistar.




quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vontade de Azul

Por: Viviane Cabrera


Dias se passaram como um sopro. Mas ela ainda estava ali no quarto. Ficava a olhar as nuances de azul no céu. Só que aquela aura rosada sufocava o que de mais íntimo possuía. "Eu olho o mundo com o olhar de mundos em mim", repetia em voz baixa. Preferia paredes brancas. Assim, imprimiria seus humores plurifacetados como quadros a retratar momentos de seu viver.

No entanto, o azul celeste despertava-lhe algo que ia além de uma mera explicação de palavras. Por entre grades, tentava alcançar não só a cor, mas também o mais alto que pudesse. Contudo, quanto mais esticava-se, mais distante estava de seus desejos, aspirações e anseios.

Enquanto isso, nuvens passeavam de um lado a outro afrontando sua expectativa de um dia ter a liberdade de ir com o vento até onde o destino lhe for permitido. Não se furtava a enfrentar obstáculos.

 Afinal, é deles que se extrai o sumo de aprendizados. Apenas queria abraçar a vida, ter coragem e dar a cara a tapa. O medo era nulo quando me lanço em direção ao desconhecido em um mergulho sem fim. Somente queria a liberdade azulada que se apresentava tão atraente diante dos olhos.

Faltava-lhe muito para compreender o imcompreensível. As pessoas são pequenas peças de um enorme quebra-cabeça maluco e desconexo. Então, para que dar murro em ponta de faca? Sábios os chineses que provavam por A + B que a mudança coberta de sensatez é aquela que começa por nós mesmos. Se a caminhada será longa, não importa. Pois que seja proveitosa enquanto dure.

Todavia, a dela estava anos luz de se concretizar. Separada de sua jornada por grades frias de ferro sonhava, envolta na intoxicante fumaça rosácea do quarto, aguardando por algo que viabilizasse sua fuga para um céu de azuis profusos e vivazes.